23 de mai. de 2012

Papai, o que é corrupção?


Irineu Tolentino

Revirando minhas gavetas, encontrei um texto antigo que parece novo. Achei oportuno republicá-lo por conta dos últimos acontecimentos políticos, Cachoeira, CPI,...

***

Minha filhinha, de cinco anos (hoje ela conta com dez), fez-me essa pergunta enquanto assistíamos ao Jornal Nacional. Ela gosta de me acompanhar nos meus programas preferidos. Não sei se por interesse próprio ou se para comungar comigo os meus gostos e estar ao meu lado. Prefiro acreditar nessa segunda hipótese.


Antes que eu, pensativo, e até um tanto curioso com a sua preocupação (nada pequena para o seu tamanho), desse-lhe uma resposta que me fosse possível, ela emendou:

- Corrupção é quando os políticos pegam o dinheiro da gente?

Diante daquela situação, eu, que nunca havia parado para pensar em como explicar essa questão para uma criança, e sem poder ficar alheio às suas preocupações e dúvidas - pois os pais são o porto seguro dos filhos, os primeiros heróis particulares e reais que eles encontram em suas infâncias -, arrisquei:

- Não filha...não é isso. Corrupção não é quando os políticos pegam o dinheiro da gente. É quando qualquer um pega ou recebe o que não lhe pertence ou não merece. Quem faz o que não é certo, o que não é justo, lesa os outros, furta os bens e direitos alheios, desvirtua o que a moral tutela, é um corrupto. Para isso não precisa ter cargos ou ser alguma personalidade importante. Um pobre pode ser corrupto da mesma forma que um rico. Portanto, esse privilégio (pouco invejável), de tornar-se um corrupto não é só dos políticos, é de qualquer um que queira sê-lo.

- Então um ladrão é um corrupto, papai?

- É também filha...

- Ah...tá! Entendi. Expressou ela dando a nítida impressão de que havia entendido "tudinho", como as crianças fazem.

Na verdade, não sei se ela entendeu o que eu tentei lhe dizer...

Após esse episódio, não mais consegui prestar atenção ao jornal. Não por me faltar interesse nas matérias que estavam sendo apresentadas, mas porque, a partir dali, procurei entender o que se passava na cabeça de uma criança que se preocupava com tal coisa. Fiquei, como fico ainda, curioso para saber qual é a dimensão que essa questão tinha na cabeça dela.

E assim, mais uma vez, a nostalgia tomou conta de mim e passei a me lembrar daquele tempo em que as crianças apenas se preocupavam em brincar nas ruas tranqüilas enquanto a vida lhe subtraía a infância.

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